21/12/2008

Estação dos Caminhos-de-ferro de Beirã - Comunicado









Exmo. Senhor Presidente do Conselho de Gerência da CP,
Eng.º Francisco Cardoso dos Reis,

O Município de Marvão tomou conhecimento, através de Munícipes residentes na localidade, que representantes da CP estavam a retirar mobiliário da Estação dos Caminhos-de-ferro de Beirã. Tratando-se de mobiliário construído na época à medida do edifício e da sua funcionalidade, que no seu conjunto constituem uma forte referência no imaginário de todos os Marvanenses, assim como uma parte importante do seu Património, venho apresentar a minha reclamação por esta decisão unilateral levada a efeito por V. Exas.

Com o devido respeito, considero esta decisão inadequada para uma Empresa com a V. importância que prossegue os princípios de responsabilidade social e, além disso, inserida num contexto democrático e europeu.

Deste modo, certo que V. Exas. darão a devida atenção à minha contestação, solicito a reposição do mobiliário e também a V. colaboração para dignificar este Património.

A actual Estação dos Caminhos-de-ferro de Beirã assenta sobre a primeira, mais pequena e de menor envergadura e que foi construída nos finais do séc. XIX. Na primeira metade do século XX, reconhecendo a CP a importância e simbologia da última, ou primeira estação portuguesa na linha Lisboa / Madrid / Europa aumentou-a em espaço e condições de acolhimento, revestiu-a de magníficos painéis de azulejos, assinados por Jorge Colaço, retratando os principais monumentos portugueses qual sala de visitas de Portugal. Na mesma data e ao lado da estação ergueu a CP novo edifício denominado Restaurante, onde os utentes do Caminho-de-ferro, podiam comer e descansar, enquanto aguardavam durante as normais e por vezes longas paragens que se efectuavam na estação terminal de Beirã, por via da Alfândega, Guarda Fiscal e também da PIDE.

Nestes edifícios, mas especialmente no do Restaurante, encontramos um conjunto de soluções arquitectónicas desenvolvidas pelo arquitecto Raul Lino, vulgarmente conhecidas por “Casa Portuguesa” e profusamente utilizadas pelo regime de Salazar em edifícios públicos.

Foi esta estação e especialmente o Restaurante palco de múltiplos episódios secretos relacionados com a complexa história da Europa decorrente da 2ª Grande Guerra Mundial. Aqui se reuniram espiões, aqui se combinaram estratégias, aqui se assinaram declarações de neutralidade conveniente. Aqui estanciou muito do “ouro nazi” e por aqui muitos perseguidos passaram.

Assim, quer por via do elevado interesse patrimonial que a arquitectura destes edifícios encerram, quer pelas vivências de inegável valor histórico que presenciaram, justifica-se a sua integral preservação e justifica-se igualmente que, de imediato, a Câmara Municipal, face aos constantes atentados perpetrados pela CP, como a presente ocorrência da retirada de mobiliário, promova a classificação destes imóveis como de interesse municipal e inicie o processo da sua classificação junto do IGESPAR.


Com os melhores cumprimentos,

O Presidente da Câmara Municipal de Marvão,

Victor Manuel Martins Frutuoso





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